Ha origem dos problemas ambientais - perspectiva psicológica das atitudes ambientais

AutorMariana Aparecida Adalberto de Carvalho - Neide Duarte Rolims
1 Introdução

Do contexto histórico de desenvolvimento da sociedade é possível perceber que, desde a formação do mundo, o ser humano tem modificado o ecossistema para suprir seus interesses. E isso tem contribuindo para o agravamento do desequilíbrio do planeta e, conseqüentemente, de si próprio.

Após a Revolução Industrial, os padrões interativos do ser humano com o meio ambiente caracterizaram-se pela busca de ganhos socioeconômicos. O aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, o desmatamento, a extinção de espécies, a diminuição do suprimento de água potável, o crescimento populacional, a chuva ácida e a poluição tóxica do ar e das águas vêm sendo apontados como as principais ameaças ao meio ambiente terrestre. (ALMEIDA, 1994)

Cerca de doze milhões de pessoas de todo o mundo morrem por ano por não terem água potável. Acrescente-se que cerca da metade das florestas originais do mundo foi perdida e que duas de cada três espécies ainda vivas estão em processo de extinção. Anualmente 30 bilhões de toneladas de lixo são despejados na natureza em todo o mundo (no Brasil são produzidas diariamente 125.281 toneladas).

Em menos de vinte anos, o volume de água distribuída sem tratamento aos brasileiros aumentou mais de 3%, indo de 3,9% em 1989 para 7,2% em 2000. Por esses motivos, a Organização das Nações Unidas (ONU) espera que 20% da população mundial se transforme em refugiados ambientais nos próximos 20 anos, devido aos danos ambientais causados em suas áreas de origem, tais como a destruição de terra fértil e carência de água.

Esses fatos estão, de forma imperiosa, exigindo mudanças urgentes para uma nova compreensão de que o homem e a Terra são constituídos da mesma natureza e são regidos pelos mesmos princípios, fazendo parte integrante de uma totalidade. A Psicologia Ambiental, aliada à visão da Ecologia Profunda, e utilizando-se dos conhecimentos que facilitam a compreensão dos Princípios da Natureza, que estão contidos, de forma integrada e inter-relacionada, em tudo o que existe, poderá cumprir um relevante papel na consolidação de um novo paradigma que pensa o homem e o planeta Terra como uma totalidade. (MILFONT, Taciano Lemos)

2 - A evolução histórica das preocupações ambientais

No mundo atual observa-se um antropocentrismo, que tem sua importância para a solidificação da base psíquica humana numa determinada fase de seu desenvolvimento - infância - entretanto, ocorre uma fixação desta fase nas atitudes e comportamentos do ser humano na sua relação com a natureza. Este aspecto infantilizado de atitudes e comportamentos humano, ao longo do tempo, tem contribuído para o agravamento do desequilíbrio do planeta e, conseqüentemente, de si próprio. Fato visível no aquecimento global, além de outros, sendo este o maior desafio ambiental do século XXI, interferindo nas mudanças climáticas que vêm provocando desgelo das calotas polares, subida do nível do mar, aumento da intensidade dos ventos com ciclones, furacões e outros fenômenos relacionados. Estes fatos estão, de forma imperiosa, exigindo mudanças urgentes na visão do "homem separado", do tipo: o que está dentro de minha pele sou eu, e o que está fora da minha pele não sou eu. Esta percepção ilusória de separatividade infantil está dificultando o amadurecimento para a compreensão de que o homem e a Terra são constituídos da mesma natureza e são regidos pelos mesmos princípios, fazendo parte integrante de uma totalidade. (ALVES FILHO 2002)

A necessidade de informações mais ampliadas que consideram a idéia de que a Terra como um todo é um sistema vivo e auto-organizador, oferece uma chave que poderá contribuir na compreensão do comportamento humano, ou seja, do papel do homem amadurecido no mundo globalizado, não só na Psicologia Ambiental, como também em outros campos das ciências ambientais.

Os seres humanos estão se mostrado mais preocupados com as questões ambientais. Enfim, chegou-se a um consenso no sentido de que os recursos naturais são ilimitados e que estão sendo utilizados em uma proporção muito maior do que sua capacidade de reestruturação natural.

Atentos a esta situação, em 2005 foi criado um projeto de avaliação do ecossistema. O projeto durou por 04 (quatro) anos e envolveu 95 países e 1.400 (um mil e quatrocentos especialistas para compilar um inventário global quanto ao estado em que se encontra o ecossistema. Deste inventário foram extraídas 4 conclusões. Quais sejam;

Primeiro: Para atender às suas necessidades de bens, nos últimos 50 (cinquenta) anos, o ser humano degradou o ambiente muito mais do que em qualquer período equivalente a outras épocas. Em razão disto, cerca de 60 (sessenta) por cento dos recursos naturais que sustentam o ecossistema estão sendo utilizados de forma insustentável ou danificados.

Segundo: Houve desenvolvimento econômico e a saúde e o bem estar humano melhoraram, porém às custas de degradação do ecossistema. Por consequência, ampliou-se o risco de mudanças ambientais inesperadas e de pobreza para alguns grupos de pessoas.

Terceiro: A expectativa é a de que nos próximos 50 (cinquenta) anos a degradação do ecossistema vá piorar significativamente.

Quarto: São necessárias mudanças na política, institucionais e práticas para reverter a degradação dos recursos naturais. As investigações têm mostrado que estes problemas parecem estar ligados a ações humanas.

Como apontado por Wilson (1993), " a humanidade está fazendo agora em um único tempo de vida vai empobrecer os nossos descendentes por todo o tempo de vir" ( p. 37).

Para entender os "efeitos" da ação do homem sobre o meio ambiente, Simons (1993) classificou as interações homem meio ambiente em cinco etapas:

Primeira etapa: abrange cerca de 99 (noventa e nove) por cento da história humana. Ocorreu inicialmente na Ásia em torno de 7.500 a.c. Esta etapa, foi caracterizada pelo sedentarismo e pelo desenvolvimento de habilidades iniciais para a domesticação de animais e plantas por populações de caçadores-coletores. Os impactos documentados nesta etapa foram a redução ou extinção de espécies animais e uso de fogo para limpeza da terra. De um modo geral os seres humanos tinham pouco ou nenhum impacto duradouro sobre o meio ambiente.

Segunda Etapa: 4.000 ac até 1dc. Foi caracterizada pela pastorícia e conquistas tecnológicas para controlar e armazenar grandes quantidades de água. Registro de avanços no abastecimento de água. Foi ampliado o período de crescimento, e, como resultado, a transformação da terra em grande escala. Se estabeleceu a agricultura, e o crescimento da população foram documentados. Assim, enquanto o uso de fogo para limpeza da terra era importante na primeira fase, a utilização e armazenagem de água foi o destaque da segunda etapa.

Terceira etapa: Ocorreu de 500 a.c a 1.800 dc. Esta etapa engloba os impérios agricultura e foi caracterizada por populações centradas na cidade com a política e com a potência comercial. Dada a concentração de populações humanas nestas regiões centralizadas a demanda por alimentos foi maior. Este aumento da demanda levou a avanços tecnológicos na produção de alimentos, tais como o armazenamento de água, a agricultura irrigada, terraceamento e reprodução seletiva em áreas centralizadas. Outra característica importante desta etapa foi a distinção entre o local de produção e o local de consumo, com os bens, como as culturas de plantas e animais, sendo transportados por longas distâncias a partir de um império para outro. Embora pré- industrial, o impacto das populações humanas sobre os seus ambientes aumentou substancialmente durante este estágio, como evidenciado pela erosão das pedreiras, alta produção de resíduos, gestão de florestas para carvão vegetal, e a dependência de várias espécies animais sobre a intervenção humana para a sua sobrevivência, como resultado da sua domesticação.

No entanto, nesta etapa, algumas ações preservacionistas também foram documentados durante este período, tais como a gestão de áreas de preservação (por exemplo , as florestas reais ), a criação de parques e jardins encomendados, e o uso da legislação para a proteção de certas espécies .

A quarta ocorreu de 1.800 a cerca de 1.960. Esta fase abrange o período desde a revolução industrial e representa um período de muito alto impacto humano sobre o meio ambiente. Estima-se, por exemplo, que 1800-1985 a população mundial multiplicou cinco vezes, e a proporção de pessoas que vivem em áreas urbanas aumentou de 2 % para quase 50%. Esta fase urbano industrializada testemunhou vários avanços tecnológicos, como o relógio, computadores e uso de combustíveis fósseis para o transporte de alta velocidade. Esta etapa também presenciou transformações ambientais sem precedentes. Essas transformações incluem mudanças nos processos ecológicos (por exemplo, a acumulação de materiais naturais em grandes concentrações e na criação de novos materiais desconhecidos na natureza, tais como pesticidas), a expansão das áreas cultivadas, resultando em erosão, o desmatamento e a extinção de várias espécies, bem como pela criação de grandes conglomerados de seres humanos que vivem em centros urbanos, resultando em escassez de água e aumento da produção de resíduos.

A era do Pacífico global, que começou na década de 1960, é a fase mais recente da história das interações homem-ambiente. Esta fase tem sido caracterizada por uma expansão econômica em países na costa do Pacífico, a comunicação global, resultando na globalização, econômica interdependência entre os países, e o reconhecimento da diversidade regional. Esta fase tem também assistiu a uma mudança na percepção do mundo natural e da relação homem- meio ambiente, o que resultou em preocupação ambiental internacional das pessoas.

Assim, de acordo com Simmons (1993) os impactos permanentes de seres humanos sobre os seus ambientes são documentados em todas as fases da história da interação homem-ambiente. Parece, no entanto, que apenas durante as últimas décadas têm sido usados os recursos naturais a um ritmo mais rápido do que eles podem ser restaurados. Isto levou a um aumento da preocupação ambiental. Barbieri (1997) delineou três estágios para a evolução da preocupação ambiental.

Na primeira fase, as preocupações eram sobre questões ambientais específicas, que foram entendidos para ser causado pela ignorância, negligência ou irresponsabilidade de produtores e consumidores de bens e serviços. Na segunda etapa, a degradação ambiental foi reconhecida como um problema generalizado, mas essa preocupação ainda estava confinada aos limites territoriais de cada país. A última etapa compreende a situação atual em que a degradação ambiental é considerada um problema planetário que envolve a todos, e levou a preocupação da comunidade internacional sobre os limites do desenvolvimento do planeta, que remonta a década de 1960.

A década de 1960 foi um período crítico para a crescente preocupação ambiental internacional. Durante esta década houve contribuições importantes para a discussão dos riscos de degradação ambiental, tais como o primeiro Dia da Terra, e publicações importantes, como Carson (1962) Silent Spring sobre a relação entre pesticidas e da poluição ambiental, Ehrlich (1968) A bomba Populacional sobre a questão da superpopulação, White (1967) as raízes históricas de nossa crise ecológica sobre a relação entre axiomas cristãos relativas às relações homem-natureza e atitudes antropocêntricas em relação ao meio ambiente, e de Hardin (1968) a Tragédia dos Comuns sobre os riscos de sobre-exploração dos recursos naturais, como resultado do conflito entre interesses individuais e o bem comum.

Nas décadas seguintes preocupação continuou a crescer com importantes eventos internacionais organizados pelas Nações Unidas em cada década. A primeira conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente foi realizada em Estocolmo, em 1972. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi criado em 1983 e publicou um documento intitulado Nosso Futuro Comum (muitas vezes conhecido como Relatório Brundtland), que define uma sociedade sustentável como aquele que "satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" ( Brundtland , 1987 , p. 363). A conferência de Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (ECO -92 ), que sancionou um plano global de ações para o século 21 chamado Agenda 21. Então, em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável conferência foi realizada em Joanesburgo.

Os problemas ambientais tornaram-se, portanto, temas importantes de debate internacional. Como este debate se intensificou, muitas disciplinas das ciências sociais começaram a se concentrar na investigação ambiental, com estudos em sub- disciplinas como a história ambiental (por exemplo, Hayashida de 2005, por exemplo, Simmons, 1993), a antropologia ambiental (por exemplo , PE Pouco, 1999 ; Townsend, 2000) , a sociologia ambiental (por exemplo , Buttel, 1987 , por exemplo , Dunlap & Michelson, 2002) e da psicologia ambiental (por exemplo , a Bechtel & Churchman , 2002; Stokols & Altman. (MILFONTT, Taciano Lemos)

3 - Psicologia das atitudes ambientais

Existem muitas definições de atitudes, no entanto, a definição tradicional é um dado por Allport (1935), que define as atitudes como "um estado mental e neural de prontidão, organizado através da experiência, exercendo uma direção ou influência dinâmica da resposta do indivíduo a todos objetos e situações com as quais se relaciona".

Muitos outros conceitos foram definidos, mas parece haver um consenso geral de que as atitudes podem ser vistas como uma síntese avaliativa do julgamento de dimensões de atributos de um objeto psicológico específico.

Já o conceito de atitudes ambientais se volta mais para as ações do homem em relação à natureza. Muitos pesquisadores têm usado o termo "preocupação ambiental" e "atitudes ambientais" como sinônimos, enquanto que outros os diferencia. Pode-se definir como atitude ambiental: "O grau em que as pessoas estão conscientes de problemas relacionados com o meio ambiente e se esforçam para resolvê-los ou manifestam uma vontade de contribuir pessoalmente para a sua solução" ( Dunlap & Michelson , 2002).

O termo "atitudes ambientais" é mais bem aplicado do que "preocupação ambiental" para analisar a questão ambiental atual, tendo em vista que a preocupação ambiental pode ser considerada apenas como um receio do ser humano em relação ao meio ambiente. Já as atitudes ambientais podem ser consideradas ações praticadas pelos seres humanos a fim de evitar ou minimizar uma situação de risco ambiental.

As atitudes ambientais são consideradas latentes, não podem ser observadas diretamente. Assim, podem-se deduzir as atitudes a partir de respostas abertas (Himmelfarb, 1993).

As técnicas de mensuração de atitudes podem ser amplamente organizadas em métodos de auto relato diretos e técnicas de medição implícitas. Os métodos de auto relato são baseados em questionários aplicados aos seres humanos e que indicam suas próprias atitudes.

Existem três técnicas principais que têm sido utilizados. Essas são: o método de Thurstone (de intervalos iguais de aparência, o que é pouco utilizado atualmente); o método de Likert (votos somados, sendo a técnica mais utilizada); e o método de diferencial semântico de Osgood (pouco utilizado).

Na técnica de Likert, uma série de declarações de atitude são formuladas, expressando posições favoráveis ou desfavoráveis, em relação ao objeto de atitude. Esses itens podem consistir em declarações de crença, declarações afetivas, ou afirmações sobre reações comportamentais. As atitudes desfavoráveis são constituídas "pró-traço" e as atitudes favoráveis "com-traço" (Himmelfarb, 1993).

Os participantes são questionados sobre esses itens, em uma escala de auto- avaliação. As opções de resposta para a escala de avaliação de 5 pontos utilizados são geralmente:

As pontuações em todos os itens são, então, tabuladas, fornecendo um único índice quantitativo de atitudes dos participantes para o objeto. Os pesquisadores usaram observações comportamentais para definer e pesquisar sobre as atitudes das pessoas. As medidas fisiológicas, como respostas papilares, atividade muscular facial sutil, reflexos cerebrais são utilizadas para medir as atitudes das pessoas. Muitos pesquisadores afirmam que os participantes expressam suas verdadeiras atitudes através de tais respostas avaliativas automáticas fisiológicas.

Outro tipo de técnica utilizada são as medidas de latência da resposta, baseadas no pressuposto de que as atitudes podem ser medidas através da velocidade com que o julgamento de uma pessoa para uma dada atitude é produzida.

Em relação a essa pesquisa, verificou-se que o mais eficiente para o estudo das atitudes ambientais é o trabalho empírico através da aplicação dos questionários, haja vista que demonstram, de caráter objetivo, o que realmente é observado na sociedade. Métodos de auto relato e latência de respostas são considerados análises subjetivas e parciais. Isso não pode ser base para uma pesquisa empírica.

4 - Valores, atitudes e comportamento pró-ambiental

Há evidências empíricas que dão suporte à relação entre valores, atitudes e comportamentos pró-ambientais (ver, por exemplo, Milfont, Coelho Júnior, Gouveia & Coelho, 2003; Schultz & Zelezny, 1999; Vaske & Donnelly, 1999). Rokeach (1968/1981) argumenta que as crenças, atitudes e valores estão atrelados, formando um sistema cognitivo funcionalmente integrado; portanto, uma mudança em qualquer parte deste sistema afetará outras partes e culminará em mudança comportamental.

Seguindo esta orientação, Stern e Dietz (1994) enfatizam que a orientação de valores pode afetar as crenças e atitudes dos indivíduos e, conseqüentemente, o seu comportamento. Partindo desta base teórica e ampliando o modelo de altruísmo (Schwartz, 1977), Stern e seus colaboradores (Stern & Dietz, 1994; Stern, Dietz & Kalof, 1993) propuseram que as normas morais podem ser ativadas não só por valores socioaltruísticos, mas também por valores egoístas e biosféricos. Stern e Dietz (1994) comprovaram empiricamente a correlação positiva dos comportamentos pró-ambientais com valores biosféricos, e negativa com valores egoístas.

Adicionalmente, Vaske e Donnelly (1999), com uma amostra de 960 participantes do Colorado (Estados Unidos da América), investigaram a operacionalização de um esquema de cognição hierárquica composta por: orientação valorativa → atitudes → intenção comportamental. Estes autores verificaram que a orientação valorativa (biocêntrica/antropocêntrica) se apresenta como preditora de atitudes frente à preservação de florestas, e que estas medeiam a relação entre a orientação valorativa e a intenção comportamental de votar a favor da preservação das florestas. Neste estudo os indivíduos que apresentaram maior pontuação na orientação valorativa biocêntrica demonstraram uma atitude mais positiva com relação à preservação da floresta. Por outro lado, aqueles que apresentam uma orientação valorativa mais antropocêntrica tenderam a apoiar a expansão de áreas privadas de esqui sobre o espaço público próprio das florestas, mais do que o fizeram os indivíduos que apresentam uma orientação valorativa mais biocêntrica.

Karp (1996), em seu estudo sobre os valores e seus efeitos sobre o comportamento pró-ambiental, utilizou a tipologia proposta por Schwartz (1992, 1994) e verificou que, das quatro categorias de valores sugeridas por este autor, autotranscendência e abertura à mudança apresentaram influência positiva no comportamento pró-ambiental, enquanto autopromoção e conservação apresentaram direção inversa.

Schultz e Zelezny (1999) encontraram resultados semelhantes ao utilizar os tipos motivacionais de valores de Schwartz (1992, 1994) como preditores de atitudes ambientais. Mesmo considerando construtos diferentes, os resultados são comparáveis aos previamente descritos. Concretamente, estes autores verificaram que o tipo motivacional universalismo, que faz parte da categoria autotranscendência, foi o mais forte explicador das atitudes ambientais ecocêntricas. Mais detalhadamente, através de análises de regressão, estes autores verificaram que o tipo motivacional universalismo predisse positivamente as atitudes ecocêntricas, enquanto os tipos motivacionais poder e tradição o fizeram negativamente. Por outro lado, as atitudes antropocêntricas foram preditas positivamente pelos tipos motivacionais poder, tradição, conformidade e segurança, e negativamente, por benevolência.

Em resumo, estudos prévios têm demonstrado uma relação entre os valores humanos e as atitudes (tratadas predominantemente em termos das dimensões ecocêntrica e antropocêntrica) e comportamentos pró-ambientais; contudo, pouco se sabe efetivamente sobre o sentido e a magnitude com que estes construtos se correlacionam no contexto brasileiro.

5- Comportamento pró-ambiental

O comportamento pró-ambiental tem sido um dos temas de maior interesse em Psicologia Ambiental e pode ser definido como "O conjunto de ações dirigidas, deliberadas e efetivas que respondem a requerimentos sociais e individuais e que resultam na proteção do meio"(Corral-Verdugo, 2000).

Existem diversas escalas para avaliar comportamentos pró-ambientais, tais como a proposta por Schultz (Schultz & Zelezny, 1999; Schultz, Zelezny, & Dalrymple, 2000) e Kaiser (1998). O presente estudo utilizou uma medida que avaliou apenas a intenção comportamental. Este é um procedimento comum utilizado para a mensuração dos comportamentos ambientais.

Há evidências concretas que auxiliam a relação entre valores, atitudes e comportamentos pró-ambientais. Rokeach (1968/1981) argumenta que as crenças, atitudes e valores estão atrelados às atitudes ambientais. Qualquer mudança nas crenças, valores, atitudes culminará em mudança comportamental dos seres humanos praticantes. Essas mudanças culminam também na mudança dos comportamentos ambientais. Alguns estudos têm demonstrado uma relação entre os valores humanos e as atitudes e comportamentos pró-ambientais.

A estrutura subjacente de valor dos indivíduos influencia as atitudes e comportamentos. De fato, uma das duas funções consensuais de valores na literatura psicológica é que os valores guiam as ações humanas , sendo o outro que os valores dão expressão às necessidades humanas.

Schultz sugere que a cultura influencia o tipo de atitudes ambientais que as pessoas tendem a se desenvolver. Apesar dessa sugestão, a maioria das pesquisas até o momento não considerou as diferenças ambientais entre as culturas.

No entanto, isso parece estar mudando com vários estudos empíricos recentes examinando as atitudes ambientais em todos os grupos étnicos e culturas. Crenças e comportamentos ambientais variam de acordo com a etnia. Cada grupo, com sua forma de agir e pensar, praticam atitudes distintas e isso não diferencia das atitudes ambientais. Verifica-se que a questão social e cultural afetam o modo de pensar e agir das pessoas, inclusive em relação ao meio ambiente.

Alguns Estudos encontraram diferenças culturais na importância atribuída às atitudes ambientais. A estrutura dessas atitudes é bastante estável em todos os grupos culturais. Apesar desta aparente coerência, ainda não está claro na literatura a estrutura real das atitudes ambientais.

5 - CONSIDERAÇÕES

O objetivo desse trabalho foi conhecer o papel dos valores humanos como justificativas das atitudes e das atitudes pró-ambientais. No contexto histórico de desenvolvimento da sociedade é possível perceber que, desde a formação do mundo, o ser humano tem modificado o ecossistema para suprir seus interesses. E isso tem contribuindo para o agravamento do desequilíbrio do planeta e, conseqüentemente, de si próprio. O meio ambiente tem sido muito prejudicado com as ações humanas em extrair os recursos naturais em prol do desenvolvimento.

Mas esse pensamento da primeira modernidade está se modificando. Os seres humanos estão se mostrado mais preocupados com as questões ambientais. Enfim, chegou-se a um consenso no sentido de que os recursos naturais são ilimitados e que estão sendo utilizados em uma proporção muito maior do que sua capacidade de reestruturação natural.

Verifica-se que as pessoas mais jovens tendem a apresentar mais preocupação ambiental e que os diversos grupos culturais influenciam as atitudes das pessoas tanto no seu dia-a-dia quanto em relação ao meio ambiente. As pessoas que assumem maior orientação valorativa tendem a apresentar mais atitudes, crenças e compromissos em favor do meio ambiente.

Desse modo, a educação de valores universais (justiça social, sabedoria, igualdade, paz, união, preservação da natureza) pode favorecer o desenvolvimento de atitudes ecocêntricas e comportamentos pró-ambientais. Esses valores podem ser ensinados desde a infância, por meio da educação ambiental, procurando socializar as crianças para que as mesmas iniciem o processo de preservação do meio ambiente.

Enfim, o estudo de atitudes e valores capaz de assegurar um ambiente sustentável deveria ser uma meta principal dos pesquisadores em Psicologia Social e Ambiental, para que assim haja um meio ambiente ecologicamente equilibrado tanto para as presentes quanto para as futuras gerações.

Referencias

Almeida Júnior, J. M. G. (1994). Desenvolvimento ecologicamente auto-sustentável: conceitos, princípios e implicações. Humanidades, 10, 284-299.

Alves Filho, F. (2002, 03 de abril). País sujo. Revista Isto É, 1696, 74-80.

Milfont, Taciano Lemos Coelho Júnior, (2007, set.). Psychology of Environmental Attitudes. A cross-cultural study of their content and structure. Disponível em https://researchspace.auckland.ac.nz/bitstream/handle/2292/1712/02whole.pdf?sequence=5

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