O Equity Crowdfunding e os Meios Alternativos de Financiamento

AutorAna Sá Couto - Frederico Romano Colaço
Páginas130-135

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Introdução o crowdfunding ou financiamento colectivo. Modalidades

A revolução digital impulsionada pelo rápido avanço tecnológico da Internet tem trazido importantes mudanças de paradigma para empresas e negócios. A proliferação dos dispositivos interligados (smartphones, tablets, notebooks), o aumento exponencial das velocidades de conectividade ou as redes sociais, entre outras inovações, acarretam uma inevitável aceleração dos ciclos tecnológicos, de tal forma que as oportunidades de implantação de novas estratégias e introdução de novos produtos são constantes.

O financiamento coletivo - ou crowdfunding, como ficou conhecido - é mais uma ferramenta que o poder da rede colocou ao serviço do empreendedor, para conseguir angariar os fundos necessários à criação e desenvolvimento do seu projeto. Através dele, o indivíduo faz a apresentação da ideia de negócio, normalmente em formato vídeo, e publica-o numa plataforma especializada, que se encarrega de difundi-lo e apresentá-lo à comunidade. Esta apresentação inclui tipicamente um pitch, ou pedido, que é feito no sentido de convencer os internautas que acreditem no projeto a financiá-lo, bem como o montante pecuniário mínimo necessário para que este possa ser concretizado.

Trata-se da vertente financeira de uma tendência social e de mercado transversal, denominada crowd-sourcing (Howe, J. (2006). The rise of crowdsourcing. Retirado da revista Wired: http://www.wired.com/wired/archive/14.06/crowds.html) e definida em termos amplos como a externalização de processos ou trabalhos a um grupo alargado de pessoas, que ocorre na maioria das vezes através da Internet. Encontra-se intensivamente presente no nosso quotidiano e assume uma importância crescente na modelação do tecido social, bastando para isso pensar em iniciativas como a Wikipedia, iStockPhoto, Threadless, ou até mesmo populares programas de televisão como The Voice, X Factor e suas variantes.

Modalidades. O Equity Crowdfunding em particular

O crowdfunding tem vários tipos de manifestações distintas, podendo variar, por exemplo, consoante o

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tipo de atividade a desenvolver (filantropia, música, cinema, negócios), mas a principal divisão é criada pela natureza da relação entre o empresário e o indivíduo. Essa relação pode assumir várias formas, consoante o título a que a contribuição for solicitada: reward (recompensa); donation (doação); equity-based (quota de participação) ou loan-based (mútuo).

Enquanto as duas primeiras modalidades não oferecem dificuldades especiais no âmbito da regulação jurídica das atividades, as duas últimas mere-cem atenção pelo potencial de disrupção e os desafios que apresentam para o mercado de capitais e para o financiamento bancário tradicional.

Nesta lógica, e por economia de espaço, daremos ênfase ao já batizado equity crowdfunding, que se diferencia das demais vertentes na medida em que os financiadores do projeto recebem a sua compensação em forma de capital, receita ou acordos de divisão dos lucros do empreendimento, tornando-se, através da relação jurídica criada, em partes interessadas no crescimento futuro da empresa (Massolution. 2012, 8 de maio. Crowdfunding Industry Report. Disponível em http://www.crowdsourcing.org/editorial/total-global-crowdfunding-to--nearly-double-in-2012-to-3b-massolution-research-report/14287).

Vantagens do modelo Portugal, a crise económica e a recuperação. Empreendedorismo

As características apresentadas tornam o equity crowdfunding num mecanismo apto a dotar empresas numa fase inicial de crescimento (start-ups) do financiamento necessário para iniciar ou consolidar a sua atividade. Trata-se de projetos que tipicamente não possuem escala ou património suficiente para receber financiamento bancário e cujas características não os tornam atraentes para investidores de capital de risco, que tendem a selecionar projetos com estratégias de saída bem definidas (venda futura de participação com mais valia). Este «défice de financiamento» ou funding gap tem sido apontado como um importante obstáculo ao desenvolvimento económico dos nossos dias, que se agravou com as restrições que o setor bancário colocou aos pedidos de empréstimo na sequência da crise económica de 2008.

Por outro lado, em relação ao investidor de retalho pode dizer-se que, apesar de apresentar riscos sensíveis, o modelo permite a qualquer indivíduo adquirir uma participação em projetos à escolha, de forma rápida, flexível, sem despender montantes elevados, e expor-se dessa forma ao imenso potencial de valorização de empresas em fase de ascensão, tudo através da Internet. Tem-se verificado, adicionalmente, a criação de um sentimento próximo do mecenato (desire for patronage) que leva parte significativa dos investidores a identificarem-se com e envolverem-se nos projetos através da prestação de apoio não só financeiro, mas também operacional, criando ligações ativas...

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